Ecologia Profunda é uma ponte. Compreensão de que as separações podem existir na nossa percepção, e que isto não confere realidade e nem verdade, mas um modo de ver. Ecologia é um modo de ver, antes de tudo; um modo de ver relações, ver construindo, ver tecendo, ver sendo parte e sendo todo. Ecologia é sobre relações. E quanto mais profundas as relações que construímos, que vemos, participamos, mais entretecida é a nossa compreensão.
Ecologia profunda é uma ponte entre a ecologia interior e a ecologia cósmica, uma ponte que conecta os seres em seus lugares de vida, na compreensão de que cada ser é limitado, finito, que possui identidade e caráter, aparência, existência e ainda assim, tem continuidade, a compreensão de que todos os seres existentes, no mundo interior e no mundo cósmico, existem em continuidade, partilhando o mesmo ambiente de vida, na reunião de todos os tempos e todos os espaços e todas as vontades. Ecologia Profunda é uma ponte que religa todas as vontades, no tempo do nosso lugar de vida.
E por isso inclui e vai além da ecologia do indivíduo, da ecologia do conjunto de indivíduos e da ecologia dos interesses dos indivíduos. Inclui e vai além destas ecologias. Ecossistemas, populações, fisiologia, genética, comportamento, aprendizagem, mudança, economia, energia, saúde. A Ecologia Profunda inclui estas ecologias, as relaciona, entretece, constrói pontes e vai além delas. Porque inclui as pessoas que compreendem e vivenciam um sentimento de espiritualidade, e não as diferencia das pessoas que não cultivam este sentimento. Porque ecologia é sobre incluir e não convencer; é sobre contemplar, não quebrar.
O caráter vivencial da ecologia profunda requer o que o seu nome diz: profundidade. Requer um tipo de profundidade feito de ordens de grandeza, que não diferencia as pessoas pelas suas diferencás. É uma ecologia que é mais profunda quanto mais respeita as singularidades e as bifurcações que cada ser vivencia. Respeita sem excluir. Porque ecologia é sobre relações, não exclusão. E num mundo de respeito às relações, a grandeza da profundidade, há uma ordem. Poderíamos dizer que há compreensões mais profundas e menos profundas, que há quem mergulhe em questionamentos e investigações, em explorar os detalhes de cada sensação, sentido e senso que constitui a panóplia de percepções da vida, e há quem diga que isto é viver verdadeiramente. E há quem diga uqe outras pessoas vivem superficialmente, sem mergulhos nem escrutínios sobre os mistérios, sobre os propósitos, sobre nada, e há quem diga que viver assim é viver uma vida de pouca profundidade. Mas pergunto: qual é a profundidade de um átomo? Um átomo é tão profundo quanto um oceano se você for um elétron, vibrando intensamente ao redor de si e de tudo o que existe no mundo, que é também o seu mundo. Um oceano de profundidade é a profundidade de um átomo, esta é a ordem de grandeza na ecologia da percepção, incomensurável, e por isso incomparável. A grandeza de um átomo não se mede pelo diâmetro, mas pela sua contiguidade. O átomo é vazio, basicamente, e ainda assim acreditamos que toda a matéria deriva deste infinitamente pequeno pedaço de vazio. Acreditamos que as relações constituintes destes pedaços de vazio tornam o mundo isto: mundo. Relações. Ecologia é sobre relações, sobre perceber o panorama multiestratificado que contém a vida e interagir nele, ecologia profunda é esta sensibilidade suave sobre o tecido da vida e da continuidade de tudo o que existe, do mundo interior até o cosmos. É uma sinfonia perpétua de todas as músicas materiais e imateriais.